É errado os pais beijarem os filhos na boca? Para alguns especialistas, o beijo na boca pelos pais é uma demonstração desnecessária, pois acreditam que há outras maneiras de representar o amor pelos filhos.
“O beijo na boca é uma forma de relação entre duas pessoas que têm ligação erótica – como um casal – e isso pode confundir a cabeça das crianças”, diz Renata Bento, psicóloga e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.
“A gente precisa entender que a sexualidade existe desde sempre, mas é preciso marcar essa diferença para que elas saibam o que é selinho e o que não é”, diz.
Outro problema apontado pelos profissionais é o facto do pequeno começar a reproduzir essa conduta com outras pessoas.
“Dificilmente crianças mais novas terão algum dano psicológico por receber beijos dos pais. No entanto, depois de uma certa idade, alguns jovens apresentam mudanças no comportamento. A confusão se dá porque a boca é uma zona erógena. Pelo costume, a criança pode repetir a ação com outras pessoas”, alerta a psicopedagoga Cristina da Paz.
Já a psicóloga Sally-Anne McCormack defende que o gesto é uma demonstração de amor e que não deve ser encarado como algo sexual: “Não há absolutamente nenhuma maneira de beijar uma criança nos lábios seja algo confuso para eles. É como dizer que a amamentação é confusa. Algumas pessoas podem ter problemas com isso, mas não é mais sexual do que fazer uma massagem nas costas do bebé”, completa ela.
Pelo lado emocional, há quem diga que não se deve pôr limites na expressividade do amor e das emoções, porque pode se refletir em uma relação emocional distante, que evite o espaço para demonstrar amor.
“Eu, pessoalmente, percebo uma ameaça maior em não expressar afeto aos nossos filhos. Isso sim que me parece grave; o receio, o desapego ou o ódio. Mas o afeto, nunca. Que cada família o expresse como melhor lhe pareça, sempre mantendo o devido sentido comum”, diz Carabaño, membro da Associação de Pediatria do Hospital 12 de Octubre, em Madri.
O pediatra defende que existe uma clara diferença entre o beijo de pais e filhos e o do casal.
“Censurar este tipo de beijo marcado pela inocência e a ternura entre pais e filhos carece de fundamento. Por isso não acho mau beijar o seu filho na boca, na bochecha ou onde quiser, desde que seja um beijo que transmita amor, carinho ou apego; os bens mais apreciados que os pais podem dar de presente a nossa prole”, afirma Carabaño.
Há especialistas, ainda, que preferem optar por um meio termo, defendendo que o melhor caminho é sempre optar pelo diálogo.
É o caso da psicóloga Thais Campo Cavalcante, que diz que os adultos devem falar sobre o assunto com os filhos:
“Os pais precisam, de forma delicada, explicar o papel do beijo entre casais e dentro da família, sempre colocando os limites devidos. Todo amor físico é de extrema importância na criação e formação dos filhos, mas, obviamente, nada parecido com os carinhos trocados entre os adultos”, explica.
A psicanalista Renata Bento diz: “Se explicares que o pai e a mãe beijam na boca, mas que ela não pode porque é criança e que só adultos fazem isso, ela vai entender. É preciso esclarecer que só namorados têm esse hábito e que crianças não namoram. O risco é ‘adultizar’ precocemente os pequenos”, ressalta.
Do ponto de vista da saúde
“É preciso aplicar o bom senso. Se sofres de infecções transmissíveis através da saliva, como os catarros comuns ou o herpes labial, convém evitar dar um beijo na boca de outra pessoa, independentemente da idade. Mas, além disso, dar um beijinho afetivo na boca a uma criança não me parece absolutamente um perigo sanitário”, afirma Carabaño.
Maria Zilda, pediatra afirma: “Até os primeiros 30 dias de vida, recomendamos cuidado porque o sistema imunológico do bebé é muito frágil. Depois disso, ele começa a ser formado e a criança vai desenvolvendo com o tempo as suas defesas. Mas há, sim, o risco de adquirir infecções derivadas da boca dos adultos”.
Teresa Uras ressalta, ainda, que os anticorpos são passados para o filho pela placenta e, posteriormente, pelo leite materno e as vacinas: “É absolutamente errado os pais acharem que está tudo bem beijar os filhos na boca. Por exemplo, a mãe pode sair para trabalhar, contrair o vírus influenza, chegar em casa e dar um selinho no bebê, que também vai ficar doente”, afirma ela.
“Quando falamos de aconchego, não precisamos passar por essa questão. O sentimento pode estar relacionado com outras medidas de conforto como o aleitamento materno e a participação ativa do pai nos cuidados”, completa a neonatologista.