Muitas pessoas preferem estar com animais do que com amigos e familiares. Os pesquisadores Arnold Arluke e Jack Levin, sociólogos da Universidade de Northeasten constataram a partir de uma série de estudos da relação fraterna entre humanos e animais o seguinte: “as pessoas ficam mais chateadas com as notícias de abuso de animais do que com ataques dirigidos para os seres humanos”.
Após realizar uma pesquisa em uma universidade onde mostravam as fotos de quatro vítimas, sendo elas um homem adulto, um bebé humano, um cachorro adulto e um filhote, é percebido que o bebé humano suscitou mais reações de dó, seguido do filhote de cachorro.
Eles concluem então que a importância emocional varia: quanto mais indefesos e desprotegidos, mais dó sentimos.
Psicólogos da Universidade da Geórgia também realizaram um experimento onde perguntavam aos jovens quem salvariam em uma situação hipotética, um cão ou um humano.
A resposta da maioria é que se fosse seu cachorro e um ser humano desconhecido, eles salvariam o cachorro!
Segundo o Psiquiatra Içami Tiba, a preferência por animais de estimação se deve ao facto de que ele dá menos trabalho, não reage, não questiona, ele se refere a isso como sendo “o reino da tirania da vontade. É mais do que o egoísmo: é um imediatismo. Desde crianças somos centrados no próprio umbigo, principalmente de uns 30 anos para cá.”
A respeito de pessoas que preferem animais à filhos ele comenta ainda: “Não querer ter filhos demonstra uma fragilidade emocional grande, porque faz parte da maturidade e do ciclo biológico você sobreviver e perpetuar. […] No filho a gente se vê, no bichinho não.”
Já a psicoterapeuta Marilene Krom considera um bom início o cuidado e o carinho com animais, mas diz também que a relação entre pais e filhos (humanos) é que se tornará uma das riquezas humanas mais significativas, enquanto um animal sempre será limitado a seu próprio crescimento.
Mas porque as pessoas preferem os animais?
São muitas as causas prováveis dessa escolha, no entanto a maioria delas de origem emocional.
As relações humanas mudaram muito, há uma superficialidade muito grande, uma falta de empatia, com o crescimento do uso da tecnologia as pessoas tendem a relacionar-se mais virtualmente do que pessoalmente, o que, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, seria um momento de frouxidão nas relações sociais.
Outros sociólogos definem as relações afetivas descartáveis como “amor líquido”, ou seja, muito vulneráveis, onde por meio de redes sociais a amizade, o amor e o respeito entre as pessoas são facilmente descartáveis.
Tudo isso acaba mudando também a relação das pessoas com o mundo ao seu redor. Uma relação afetiva tanto de amor quanto de amizade, demanda esforço das duas partes, ambos fazem concessões, ambos precisam “estar presentes” e “se entregar” e embora a maioria de nós goste muito de uma bela história de amor em um livro ou em um filme, sabemos que é um alto investimento de vida que precisa ser feito.
Acontece que muitas pessoas após uma decepção, um trauma ou até mesmo por conta da experiência observada do casamento dos pais, não estão mais dispostas a realizar esta entrega, a se abrir para que um outro ser humano compartilhe a vida consigo.
Outros, crescem com a firme ideia de investir em uma carreira promissora ao invés de uma família.
E assim optam pela solução mais simples, uma relação que demanda menos esforço, o amor sensível e incondicional de um bichinho de estimação que estará sempre ao seu lado e as vezes tem até uma certa independência, podendo ficar sozinho em casa enquanto a pessoa trabalha.
Para uma vida saudável, seja qual for a área, o mais necessário é o equilíbrio. O mesmo vale para a relação humano-pet, ela não pode ser usada como “muleta” ou “escudo” emocional.
Para a Psicóloga Maria Aparecida das Neves em casos onde as pessoas acabam por se isolar por causa de seus animais de estimação é preciso rever o que a relação com o animal significa para o dono.
O Amor excessivo por animais pode ser um reflexo da carência do dono.
Segundo os psicólogos Cloud e Townsend, na sua pesquisa sobre limites, o problema é que pessoas com conflitos internos de limites tendem a afastar-se dos relacionamentos íntimos e pensam ser um “retrocesso” ter de aprender novamente a relacionar-se com outros seres humanos.
Uma vez que, criar um relacionamento com as pessoas é um processo demorado, arriscado e doloroso e, mesmo depois de descobrir as pessoas certas (o que ja é bastante difícil), ainda é preciso admitir que, como seres relacionais que somos, precisamos um do outro.
Certamente pensando assim, é justificável a preferência pelos animais que, conforme mencionado anteriormente, não demandam de tanto esforço, eles simplesmente agregam sem esperar nada em troca, no entanto, por mais que aparente ser uma linda relação de afeto, como seres irracionais (por mais espertos e simpáticos que sejam), os pets não tem condição de suprir todas as demandas emocionais da mesma forma que outro ser humano.
Refletindo sobre tudo isso fica a dúvida, será que por causa do tempo em que vivemos, do desgaste das relações humanas, da superficialidade e das decepções vividas em relacionamentos tóxicos nós temos desistido uns dos outros?
Como tudo nessa vida, os relacionamentos tem um custo, mas será que não é melhor amar e perder do que nunca ter amado?
A verdade é que pode custar tempo e esforço, mas o que podemos viver e partilhar com os nossos semelhantes… isso definitivamente NÃO TEM PREÇO!