As 7 principais lacunas do Benfica, Roger Schmidt e Rui Costa. Diogo Luís, ex-jogador e comentador da CNN Portugal, fez uma excelente crónica no jornal ABola sobre a época do sport Lisboa e Benfica:
1 – (Des)organização defensiva
Este é o primeiro pecado e aquele que deveria ter merecido maior atenção por parte de Roger Schmidt. No seu reinado, a equipa encarnada demonstrou sempre um ponto fraco: permite que os adversários explorem, com liberdade e tempo, o espaço existente entre a linha do meio-campo e o setor defensivo. Quando falha a primeira zona de pressão, a equipa fica muito exposta. Este é um problema que já existia na última época, mas que, este ano, está a ser exponenciado. Porquê? Porque a equipa perdeu capacidade de pressão coletiva ou organização na frente de ataque, algo que parecia estar bem rotinado no último ano. Outra justificação é que os adversários já conhecem a forma de trabalhar do Benfica e percebem como podem explorar este ponto fraco. Se os adversários percebem e exploram esta debilidade, a questão que devemos colocar é: por que motivo Schmidt não consegue melhorar o equilíbrio coletivo? Será que isto se resolve com a substituição direta de jogadores? Ou será que a equipa tem de melhorar os posicionamentos e a organização defensiva, tanto no momento de perda de bola, como em defesa posicional?
2 – Vlachodimos e expetativas
Este é outro aspeto que pode estar a ter influência na prestação do Benfica. Neste caso, não estão em causa a qualidade de Trubin ou as opções do treinador. O que está em causa é a forma como se justificou uma opção! A forma é importante, porque um balneário é composto por vários jogadores que entendem que devem jogar. A expressão nas costas dos outros vemos as nossas acaba por encaixar na perfeição. O treinador é soberano e podia ter decidido colocar Vlachodimos no banco, mas não da forma pública como o fez. Depois há ainda a gestão dos restantes jogadores. Repare-se em Morato: o Fulham ofereceu €25 M e demonstrou que o central iria ter preponderância num clube que joga numa
3 – A falta de criatividade ofensiva
O Benfica tem um plantel recheado de talento ofensivo, mas nem sempre consegue traduzir isso em golos ou oportunidades claras. A equipa parece depender muito das individualidades, como Rafa ou Darwin, para desequilibrar as defesas adversárias. Falta um fio condutor, uma ideia coletiva que potencie as qualidades dos jogadores. O Benfica tem dificuldade em variar o seu jogo, em surpreender os adversários com movimentos diferentes ou combinações inesperadas. O jogo do Benfica é previsível e fácil de anular por equipas bem organizadas defensivamente. Schmidt tem de encontrar soluções para tornar o seu ataque mais imprevisível e dinâmico, aproveitando melhor os recursos que tem à disposição.
4 – A gestão do plantel
Outro ponto que pode estar a afetar o rendimento do Benfica é a forma como Schmidt gere o seu plantel. O treinador holandês tem apostado quase sempre nos mesmos jogadores, sem dar muitas oportunidades aos que estão no banco ou na equipa B. Isto pode gerar desmotivação nos jogadores menos utilizados, que sentem que não têm chances de mostrar o seu valor. Além disso, pode provocar cansaço físico e mental nos titulares, que acumulam muitos minutos sem descanso. Schmidt tem de saber rodar o seu plantel, dando confiança aos jogadores que têm menos minutos e poupando os que estão mais desgastados. Assim, poderá manter o nível competitivo da equipa e evitar lesões ou baixas de forma.
5 – A pressão dos adeptos
Por fim, há um fator externo que pode estar a influenciar negativamente o Benfica: a pressão dos adeptos. O Benfica é um clube com uma enorme massa adepta, que exige sempre o máximo dos seus jogadores e treinadores. Os adeptos querem ver o Benfica a ganhar, a jogar bem e a conquistar títulos. Quando isso não acontece, a contestação surge rapidamente. Schmidt tem sentido na pele essa pressão, sobretudo depois dos maus resultados na Liga dos Campeões e na Taça de Portugal. Os adeptos mostram-se insatisfeitos com o trabalho do treinador e pedem mudanças. Esta situação pode afetar a confiança e a tranquilidade da equipa, que sente que tem de provar constantemente o seu valor. Schmidt tem de saber lidar com esta pressão e transmitir aos seus jogadores a confiança e a motivação necessárias para superar as adversidades e alcançar os objetivos.
6 – Custos operacionais
Os custos operacionais do Benfica subiram €15 M no último ano, devido ao aumento dos Fornecimentos e Serviços Externos (de €67 M para €82 M). Esta situação é preocupante, pois contraria as expectativas de uma gestão mais rigorosa e eficiente por parte de Rui Costa. Além disso, o orçamento do futebol foi superior ao dos anos anteriores, mas os resultados desportivos não acompanharam esse investimento. A eliminação precoce da Champions League foi um duro golpe nas contas do clube, que agora se vê obrigado a vender alguns dos seus melhores jogadores para equilibrar o orçamento. A venda de Gonçalo Ramos já não é suficiente para cobrir os gastos excessivos e isso cria uma pressão insustentável sobre a equipa técnica e os jogadores. O Benfica precisa de recuperar o controlo financeiro e desportivo, para voltar a ser um clube competitivo e sustentável.
7 – Carta branca ao treinador
A renovação de Roger Schmidt foi um sinal de confiança da direção do Benfica no seu treinador. Um clube deve apoiar o seu treinador e dar-lhe as condições necessárias para desenvolver o seu trabalho. No entanto, isso não significa que o treinador deva ter carta branca para definir a estratégia do clube. Isso seria um erro, por duas razões. Em primeiro lugar, porque o treinador é uma peça transitória no clube, que pode sair a qualquer momento. O clube deve ter uma estrutura sólida e profissional, que não dependa do treinador que estiver no comando. Em segundo lugar, porque se as coisas correrem mal, o clube não pode ficar refém de um treinador que não tem resultados. O clube deve procurar um treinador que se enquadre na sua filosofia e nos seus objetivos, e não um salvador que prometa milagres.